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Vamos tecer a manhã


O poema de João Cabral de Melo Neto que hoje divido com voces me parece perfeito para falar sobre o trabalho social que temos no âmbito cultural, social e educativo, aqui no Rio de Janeiro. O trabalho cultural envolve forças e pessoas que, por sua vez, suscitam mudanças em outras pessoas. Quando vejo estudantes indo ao teatro que pertence senão à mesma empresa da escola deles mas, ao universo que se de cada um que se conecta através das atividades que produzem, fico muito feliz:

"Um galo sozinho não tece a manhã"


“Entretendendo”, o termo construído pelo autor, que sugere o ato de “fazer tendas”.

“se entretendendo para todos, no toldo”


Vamos pensar no que já foi feito até o momento presente. Existe uma fatia da sociedade que tem cultura, ensino e serviço de boa qualidade. Isso é possível porque as empresas, através das doações, garantem esses projetos. O preço que pagamos por esses serviços são viáveis para grande parte da população. Alguns são gratuitos. 

Eu mesma participei de colônias de férias do Sesc que foram parte importantes da minha vida quando minha mãe, uma jovem viúva que trabalhava fora, não tinha com quem deixar três crianças no período escolar. Tínhamos a nossa bisavó mas, a saúde dela já estava comprometida e precisávamos brincar, aprender a nadar e a fazer essas atividades que deveriam caracterizar a infância de todas as crianças.

Colocar em risco todo esse mecanismo vai nos deixar órfãos. Muitas famílias, assim como a minha naquele tempo, não têm dinheiro para enviar os filhos para o exterior, para cursos de línguas e esportes.

Vejo aqui a tenda metafórica, no sentido de nos recolhermos para refletirmos sobre as consequências de uma interrupção de atividades por uma conta que não foi nossa. Vamos tecer uma manhã bonita para o nosso país! Vamos salvar uma fatia da sociedade que será o futuro desse país. O futuro depende sempre o nosso hoje. Cultura não é distração para um momento triste. Cultura e Arte são construções criativas, sérias e impulsionam o nosso viver desde os primórdios da humanidade.





Tecendo a Manhã.
João Cabral de Melo Neto

"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
 (a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".


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