A moça saiu do trabalho já febril. Enfrentou um trânsito caótico para chegar em casa. Um desafio cada vez mais difícil com todas as obras do Rio de Janeiro. Mesmo com febre ela acompanhou todas as mensagens do WhatsApp. Alguns apelos de doação de órgãos, gente que mandava fotos de lugares onde estavam, afinal, o final de semana havia chegado e não era importante viver. Tinha que ser grande. Fazer coisas maravilhosas. A moça não era maravilhosa. O salário pequeno de uma empresa familiar. Um horizonte definido por poucas possibilidades.
Um homem se levantou e ela tentou pegar o lugar mas outro homem foi mais hábil e seguiu até o ponto final. A bateria do celular estava já terminando e o final de semana começava. Ao chegar em casa encontrou o marido sentado no sofá cultuando a rainha do lar: a televisão. No momento do comercial, o marido também dava atenção ao celular que faz concorrência acirrada com a rainha.
A febre chegou com tudo mas a moça fez comida, lavou roupa, brigou com as crianças e viu o marido adormecer de tédio. Tomou banho e se deitou. "Ele que se levante sozinho", pensou consigo. Enquanto isso, as fotos de festas, encontros em barzinhos e pensamentos positivos pipocavam um universo que pairava sob a sua pequena e desbotada realidade. Fez uma foto de si mesma e desejou tudo de bom. No fundo do seu coração ela deseja mesmo que tudo fosse bom. Mas como?
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