Pular para o conteúdo principal

Na Padaria

O dia amanhece em Copacabana. Judith caminha com sua bengala para a padaria. Caminhar é sempre um desafio mas ela gosta de tentar. O gerente do estabelecimento a cumprimenta rapidamente porque está recebendo um fornecedor. Alguns estudantes saem do balcão com saquinhos de pão de queijo quentinho. Glorinha, a atendente abre os braços e diz:
- Minha linda! Você chegou!
- Bom dia Glorinha.
- Vou preparar o seu café com leite, viu. Arnaldo, faz aí o pão canoa de Judith. E então? Como passou a noite?
- Eu fiquei pensando no fim daquela estória de ontem.
- Pois é! A mulher ficou presa nos raios do amor.
- Me conta de novo.
- Era uma vez uma mulher que se apaixonou pelo amor e viu esse amor num lindo homem. O amor tinha raios dourados e ela brincava com esses raios.
- Mas raios são perigosos.
- Não era bem raio era...
Arnaldo entrega o pão e dá o seu palpite.
- Se quer ser escritora tem que conhecer as palavras Glorinha.
- Pois é, me ajuda aí.
- Não eram raios eram linhas coloridas. Gostou? Viu? Dona Judith gostou. Agora eu é que sou o escritor.
Glorinha começa  a sorrir. Judith gosta da nova versão. Arnaldo volta para fazer os pães e Glorinha serve os demais enquanto observa Judith.
- Você podia cantar para mim.
Uma cliente pergunta se a mulher é louca.
- É louca não. Ela mora sozinha e só come se a gente conversar com ela. Ou cantar. Ela gosta de música.
A cliente observa tudo com calma e depois olha para o relógio. Ela precisa ir para o trabalho. Glorinha pensa:
- Viu Judith, aquela ali pensa que será jovem sempre. Vamos cantar? O que você quer ouvir?
- Ciranda cirandinha.
- Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar....

O dia começa. Mais um dia para cada um dos presentes na padaria. Judith mastiga seu pão sob o efeito da cantiga. Seu coração está alegre. Depois, paga tudo e sai falando sozinha. Glorinha sente um aperto em seu coração.
- Olha minha gente, eu tenho tanta pena de Judith! Mas, só posso inventar estórias e cantar.
Arnaldo responde:
- Não precisa fazer tudo. Se fizer a sua parte já tá ajudando muito. Vamos lá fatiar o queijo.
Glorinha volta ao trabalho cantarolando enquanto Judith segue seu ritmo à caminho de casa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A diferença entre esperança e esperançar segundo Paulo Freire

Bom dia com Mario Sergio Cortella e Paulo Freire: “Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças

Van Zona Sul - a experiência de afeto e solução de um grupo de amigos

(Foto de Luiz da Costa Gonçalves Junior) Nas grandes cidades do Brasil, infelizmente, o deslocamento das pessoas constitui um problema. Os engarrafamentos são constantes afetando a qualidade de vida. Quem usa os meios públicos enfrenta a carência de um sistema que não consegue ser eficaz nem eficiente. O número de carros aumenta e as estradas não crescem na mesma velocidade dos carros. Para enfrentar essa questão alguns colegas de trabalho resolveram dar uma solução que consegue melhorar a qualidade de vida e contribui para diminuir a emissão de gases poluentes. Assim é a famosa “ van zona s ul”, como é chamada por eles. Esses amigos alugam uma van com motorista para fazer o transporte diário de ida e volta do trabalho. Esses heróis conseguem desafiar o trajeto zona sul do Rio de Janeiro até a Barra da Tijuca. A organização é primordial. O grupo é dividido entre fixos e avulsos. O pagamento é feito mensalmente e uma planilha é enviada para todos os membros com o comprova...

Marcos Caruso e Nivea Oliveira

Hoje a aula foi com ele. Caruso nos falou sobre o respeito que devemos ter enquanto profissionais. A arte exige de nós uma disciplina e constância. Uma ponte para a arte, para o ofício de criação.  Bom final de semana leitor!