
Conversando com minha amiga de infância, Wania Marques, sobre a memória comecei a refletir sobre a força da nossa estória
pessoal em nossas vidas. Minha amiga me dizia: “ Se escrevemos um livro a nossa
estória se perpetua porque outros a conhecerão. Caso contrário o conhecimento,
as nossas experiências, morrem conosco.”
O fim talvez seria isso? Excluir dos demais,
que continuam a ciranda da vida, o que nós temos em nosso ser? Alguém poderá dizer que as redes sociais já fazem isso muito bem porque todos os dias milhões de pessoas no mundo dividem momentos. De
todo modo o que me refiro aqui não está relacionado somente aos nossos eventos na
sociedade. Estou falando sobre a tessitura do que somos. Não é uma foto de um
brinde com amigos e parentes ou um selfie com o Coliseu atrás de nós.
Refiro-me ao cerne de nós mesmos, que determina os nossos brindes, as nossas fotos, as
viagens, as nossas decisões, enfim, as nossas escolhas. O que somos influencia o que fazemos e o
modo como o fazemos. A memória afetiva de nossos antepassados está presente em
nós, de forma consciente ou não. A luz sobre o passado é gerada através desse
conhecimento que temos de nós mesmos.
Em nossa família tivemos a sorte de termos
adultos com o dna dos contadores de estórias. Não éramos uma família sem
defeitos. Éramos e somos ainda uma família com uma forte ênfase no
conhecimento da nossa trajetória. Nesses momentos de conversa em família, sobretudo quando éramos
pequenos e ainda morávamos todos juntos, nos reportávamos aos engenhos de cana
de açúcar, às feiras nordestinas com frutas de nomes e sabores estranhos, aos
que já haviam partido antes da nossa estreia nesse mundo. Porém, tem um vazio a
partir de um determinado capítulo como se a nossa estória se perdesse num buraco
negro. Alguém não soube dividir e tudo se perdeu. Que pena. Se tivessem deixado um livro, um diário ou qualquer outro registro. O que ocorre é que tentamos buscar algo naquelas fotos amareladas pelo passar do tempo e só nos resta o óbvio: se parece com aquele nosso primo, lembra a mamãe. Nada sabemos sobre a pessoa mesmo.
O produto do diálogo conosco e sobre nós não
necessariamente precisa ser publicado nas redes sociais. Bastaria talvez
escolher um “my day” para ficarmos conosco e com aqueles que fazem parte do
nosso roteiro. Essa é uma aventura possível. Recentemente meu irmão Antenor Oliveira e eu tiramos um dia para o nosso "my day" e foi muito bom! Falamos sobre questões da nossa infância e tivemos muitos insights sobre como o nosso agir ficou marcado por esses comandos. Um aspecto interessante é que a conversa está sempre presente como forma de dar continuidade àquelas reuniões do passado ao lado de vovó e de nossos pais.
Não saia das redes sociais nem deixe de
publicar seus momentos. Mas tente não abandonar a cognição de si mesmo. Ela é
preciosa e vai além das circunstâncias.
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