"O tempo passa depressa
demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela
voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável
minuto. E cultivo
também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto.” Clarice Lispector
também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto.” Clarice Lispector
Essa noite ao sair do
teatro do Sesi, no Centro do Rio, eu tive
vontade de reler Clarice e me permitir viver esse tempo que escoa das nossas
mãos diariamente com mais calma e lucidez. Sobretudo de definir em primeira pessoa o meu tempo. Lembrei-me que quando cursava Letras sempre tinha uma poesia em minha bolsa. Eram folhas de papel que eram deixadas por mim para me recordarem de que a palavra é força. Era um mantra pessoal contra o tédio e
a mesmice. A palavra para o poeta é um diamante que precisa ser lapidado a todo
instante. Quem quer diamantes prontos não será nunca um poeta.
Imersa nessa emoção
profunda e questionadora me indaguei porque só pensamos em viver a vida quando
a existência está dissipando-se tal qual areia entre os dedos. O passar dos
anos deveriam nos mudar para melhor. Mas o conceito do que é o melhor varia
para cada um de nós. Talvez alguns jamais encontrem a poesia... O que fazer? O
mundo é assim mesmo, diria alguém.
Não é o ímpeto da cronologia que
intensifica essa marcha ao encontro do tempo. Somos nós os condutores avisados
e distraídos. Somos nós que não sabemos compreender, cuidar, escolher... somos
nós que brincamos de amar incondicionalmente até a primeira enchente, o
primeiro temporal. Amor é para todas as estações. Quem não sabe andar de bote terá que viver num transatlântico para sempre. Mas os recantos das ilhas são vistos para quem deixa o navio e se põe a remar.
A poesia de Clarice nos
arrebata porque reitera essa responsabilidade nossa em lapidar sentimentos,
refinar escolhas e calçar o nosso rumo com qualidade. A melhor versão de nós
mesmos pode ser perseguida se for verdadeiramente nossa. A voracidade de
sentimentos um dia se aquieta e o que irá manter o solo quente será a nossa
capacidade de amar. Não entregue o seu coração por uma bijuteria. Busque o ouro
do afeto e saiba que mesmo sendo valioso será preciso polir rachaduras e
arranhões. Perfeição é um ideal e não uma realidade.
Essa noite era o
aniversário de Nicette Bruno e a troca de palavras entre as duas fizeram muitos
da plateia chorar, inclusive eu. Emocionada me dei conta de que começamos a
morrer desde que nascemos e de que “tudo é por enquanto, nada é sempre”...
Vá ver a peça com o
coração leve. Jogue fora as pedras e mágoas! O tempo está escoando. A viagem da
vida deve ter vista para o belo!
Teatro Sesi - Centro
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